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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Emocionado, pensei se não poderia fazer uma seleção de versos memoráveis, versos absolutamente lindos até não mais, até não mais poder.

Sempre suspeitei dos versos fora do poema pelo mesmo motivo que sempre suspeitei daquelas frases sábias retiradas da obra de escritores famosos que muitas vezes, no entanto, nunca as escreveram. Afinal, sem o contexto a gente sempre se engana ao ouvir. Como aquele ditado, quem tem boca vai a Roma. Num tempo como o nosso, de possibilidades de deslocamento físico e virtual a escalas globais (avião, Internet), ir a Roma na lábia é uma proeza improvável mas possível e desejada por qualquer pessoa com algum espírito aventureiro (não necessariamente a Roma, mas enfim, a Machu Pichu, vá lá...). Quando o ditado surgiu, não sei, mas devia ser um tempo muito católico, tempo em que profanar a Igreja era ato de coragem. Daí a origem do ditado: quem tem boca vaia Roma. Hoje a Igreja não é tão forte quanto o presidente dos Estados Unidos e acabamos mudando o ditado.

É porque eu estava lendo, pela enésima vez, mas é sempre a primeira, um poema que amo do Drummond. E nele há: “A doença não me intimide, que ela não possa / chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.” (Os últimos dias). E aí eu pensei: e se ela chega até esse ponto? É por isso que o verso é emocionante, tão frágil quanto gente: nada me garante, muito menos o poema, que não chega. Em outros versos inesquecíveis, diz Drummond (Versos à boca da noite):

Lá onde não chegou minha ironia,
entre ídolos de rosto carregado,
ficaste, explicação de minha vida,
como os objetos perdidos na rua.


Acho que quando “minha vida” se explica, “tudo se explica”, pois é impossível ao homem separar claramente o tudo da sua própria vida (é esse o sonho da Ciência). Esses versos são mais decididos, mas eles passam a certeza de uma ausência, a da explicação da vida perdida na rua. Imagino uma moeda de 1 centavo perdida no asfalto até sumir. Ou então os guarda-chuvas com defeito, jogados aos cantos, desmontados como esqueletos ainda por enterrar.

E quem são os mortos por enterrar? Nossos familiares. Como se os familiares perdidos (será que eles não estão sempre já perdidos, mesmo vivos?) guardassem com nossa explicação perdida (Convívio):

Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa existência,
apenas uma forma impura do silêncio, que preferiram.

São versos que nos desmontam, nos viram ao avesso, que não querem deixar-se ler como sabedoria, ensinamento, etc. Chocantes. Por isso não basta chamá-los de lindos. É preciso olhar para a segurança que eles nos retiram, para a dificuldade de leitura que somente uma vida inteira pode vislumbrar. Eu ainda não. Como não lembrar? (Memória):

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Um comentário:

Livia Brazil disse...

Seu dia era ontem, sr. Luiz Guilherme. Hoje era Fazinha. Agora vai ficar bololo. Ainda nao li o post, quando ler comento de novo.